metareciclagem

Hacklab Terminal

Enviado por efeefe, dom, 11/17/2013 - 19:59

Nesta terça-feira, vamos fazer uma experiência. A convite da ONG Blablablá Posithivo e da Secretaria de Cidadania e Desenvolvimento Social de Ubatuba, vamos dar o primeiro passo para configurar por aqui um esporo de MetaReciclagem (um hacklab, um laboratório de fabricação, um espaço de triagem e recondicionamento de resíduo eletroeletrônico...). Vamos levar alguns equipamentos, um roteador, algumas ferramentas. Guima-san, de passagem por Ubatuba, vai mostrar suas experiências recentes com sensores e hardware livre. É uma tentativa de continuar o ritmo experimental que desenvolvemos durante o Tropixel, e articular um espaço para desenvolver ações permanentes na cidade. Vai ser uma manhã de trabalho. Todos estão convidados, mas saibam que não será uma oficina voltada para novatos. A ideia é um ritmo mais orgânico, fazendo as coisas acontecerem. Tragam suas chaves de fenda, eletrônicos parados, computadores e impressoras em desuso!

Festival Tropixel

Enviado por efeefe, sex, 08/02/2013 - 18:01

Já faz aproximadamente três anos que tenho buscado articular ações concretas entre o contexto local de Ubatuba e um sem-número de referências contemporâneas sobre reflexão e prática transformadoras. Nesse meio-tempo conheci bastante gente, testei ideias, provoquei algumas questões. Desde quando comecei a articular o ubalab como esporo de cultura digital, já me perguntava sobre a viabilidade e relevância de pensar algum evento em Ubatuba ligado ao que então eu chamava de "cultura livre". Vieram o encontrinho do MutGamb e o encontrão Hipertropical da MetaReciclagem. O primeiro era uma reunião de trabalho, restrita ao grupo de pessoas responsável pelo MutGamb. O segnundo já ensaiava um movimento mais aberto, mas era ainda um encontro de rede, de pessoas que já se conheciam e compartilhavam - mesmo que com enorme diversidade - uma série de referências e anseios. Por mais que fosse um evento aberto à participação, da perspectiva da cidade ele se colocava como uma construção autorreferente.

Encontrão Hipertropical de MetaReciclagem

Nesse meio-tempo, continuei observando e acompanhando tanto os ritmos da cidade quanto os circuitos mundo afora. Participei de mais alguns eventos. Fiquei curioso e esperançoso com o que me parece uma mudança de orientação com a nova administração municipal. Testemunhei feliz o alto nível de participação nas conferências municipais e eventos similares.

Preparando o Pixelache, em maio, eu pude pensar bastante a respeito de formatos. Aquele modelo de atuação altamente estruturado e quase inescapável dos eventos em cidades ocidentais contemporâneas, que acabamos quase forçados a adotar em Helsinque - seminário, exposição em um lugar central, workshops, programação bem definida, separação clara entre público e participantes - me parecia bastante questionável para o contexto de Ubatuba. Já durante o Camp Pixelache, na ilha de Naissaar - que tinha um formato solto, mais para encontro de rede -, eu fiquei imaginando meus planos para o festival em Ubatuba como um jogo de cartas. Seminário seria uma carta, a ser usada com intenções específicas, que tinha pressupostos e limitações bem particulares. Mostra, oficinas, atividades ao ar livre, refeições - todas cartas que podem ser jogadas, mas devem ser muito bem avaliadas. Cada uma tem um efeito diferente na realidade, na dinâmica do encontro, na expectativa de participantes. Conversei com muita gente sobre a intenção de fazer alguma coisa por aqui, e fiz uma pequena apresentação-convite em uma sessão do Camp Pixelache. A primeira semente estava lançada.

Apresentando os planos para Ubatuba durante o Camp Pixelache - Foto de Kruno Jost (Gentlejunk)

Comecei então a planejar de maneira mais concreta a realização de um Festival em Ubatuba. Chamo de Festival, e não encontro, porque dessa vez imagino um evento voltado "para fora", que busque relacionar-se com pessoas que ainda não estão habituadas com todo aquele universo conceitual da cultura livre, do ativismo midiático, dos rizomas e TAZes, do código livre/aberto e da bricolagem tecnológica. É também uma maneira de testar a hipótese do Festival como Laboratório Vivo como o Future Everything propõe. O Festival se relaciona, naturalmente, com outros projetos que quero viabilizar na cidade no futuro: um espaço dedicado ao recondicionamento, apropriação crítica e experimentação criativa com equipamentos eletrônicos descartados (com base na MetaReciclagem e levando em conta a complexidade da questão do lixo eletrônico) e um espaço de trabalho e agenciamento para projetos de cultura e educação (ou os dois espaços em um só, a depender do que vier pela frente).

O festival já tem nome e site: Tropixel. Tem data marcada (21 a 25 de outubro de 2013) e lugar para acontecer (em três ou quatro lugares de Ubatuba). Está sendo planejado por pessoas que eu muito admiro. Ele se insere, como já sugeri acima, em um histórico que vem de longe, e cujos capítulos mais recentes são o Labx no festival CulturaDigital.br, o Encontrão Hipertropical de MetaReciclagem, a Cigac Semiárido, a programação Bricolabs no Pixelache 2013.

Como o nome sugere, o festival Tropixel aproxima-se da rede de eventos Pixelache. Ao longo das conversas, decidimos deixar de lado o enfoque em cultura digital e ampliá-lo para "arte, ciência, tecnologia e sociedade". Queremos nos aprofundar em três grupos de temas: ambientes, pessoas e coisas. Vamos organizar um seminário de um dia, seguido de três dias de laboratório temporário e nômade. E estamos abertos a receber propostas de participação, através de uma chamada. Ainda estamos buscando apoio financeiro mais concreto para decidir se teremos como bancar hospedagem e transporte para as propostas aceitas, mas arranjos solidários e compartilhados também são possíveis.


P.S.: Valeu Bica pelo toque de revisão ;)

Adjetivos, MetaReciclagem e laboratórios experimentais

Enviado por efeefe, seg, 10/29/2012 - 21:23

No início deste mês estive em Medellín, na Colômbia, participando da quinta edição das Jornadas Ciudades Creativas, organizada pela Fundação Kreanta. O texto abaixo é uma costura da minha apresentação na mesa sobre "Apropriação de tecnologias para cidades inteligentes". Pra quem já leu meus outros textos, esse não tem nenhuma novidade. Mas fica como impressão do momento. Assim que tiver tempo também quero publicar por aqui um relato sobre minha experiência durante o evento.

Respondendo a uma questão da plateia após sua palestra na edição de 2012 das Jornadas Kreanta, a socióloga Saskia Sassen problematizou a aparente "explosão de adjetivos" que tem atualmente acompanhado a reflexão sobre cidades e urbanismo: cidades criativas, cidades digitais, cidades sustentáveis, cidades inteligentes, e por aí vai. Disse que ela mesma tem tentado evitar os adjetivos, porque em pouco tempo as consultorias comerciais oportunistas que se multiplicam pelo mundo acabam por sequestrar quaisquer termos que poderiam ter alguma relevância.

Coincidentemente, dois dias antes eu havia discutido um tema similar em encontro com integrantes de diferentes projetos no Museu de Arte Moderna de Medellín. Naquela manhã de quarta-feira eu sugeria que em vez de encontrar o adjetivo certo para definir as cidades que queremos, talvez mais interessante fosse desenvolver a pleno a ideia (a utopia?) da cidade moderna como ambiente propício para a convivência com a diversidade cultural, o compartilhamento de infraestrutura e a otimização de recursos.

Durante minha curta estada em Medellín, acompanhando à distância o noticiário sobre as eleições municipais no Brasil que aconteceriam na semana seguinte, eu ainda reformularia minha opinião sobre o tema: adjetivar a cidade pode sim ser temporariamente útil, como forma de contrapor-se a todas aquelas práticas arraigadas que vão no sentido oposto ao adjetivo em questão. Assim, falar em uma cidade criativa é posicionar-se contra a cidade conservadora (posicionar-se contra a agenda conservadora e as ações conservadoras dentro do espaço urbano); a cidade sustentável se opõe à cidade baseada no desperdício; defender a cidade inteligente é acusar e refutar as cidades imobilizadas pela falta de comunicação e planejamento. Mas a chave aqui é justamente o aspecto temporário: o adjetivo não deve ser a meta em si. Antes, é indicação importante de escolha de caminho prioritário.

Tenho uma sensação similar em relação ao discurso das cidades digitais, assim como ao da cultura digital, entre tantos outros. Dez anos atrás, uma das primeiras ações concebidas (embora nunca implementada a contento) pelas mesmas pessoas que à época estavam envolvidas com a criação da rede MetaReciclagem se chamava "Prefeituras Inteligentes". Naquele esboço de projeto encabeçado por Daniel Pádua, imaginávamos uma política pública baseada em espaços abertos que proporcionariam a reutilização de equipamentos eletrônicos ociosos para criar redes digitais abertas que propiciassem a livre circulação de informação. Com o tempo entenderíamos que prefeituras são frequentemente os ambientes menos propícios para tais impulsos libertários. Por mais que uma prefeitura aprendesse a ser menos estúpida, ela nunca seria tão inteligente quanto gostaríamos. Ainda assim, a qualificação pelo adetivo - o digital, o criativo, o inteligente - podem trabalhar no imaginário das pessoas e dos grupos envolvidos, criar uma disposição que possibilite propor ações concretas.

MetaReciclagem

Ao longo da última década, as diversas ações desenvolvidas de maneira distribuída através da rede MetaReciclagem acabaram deixando um pouco de lado a construção do discurso do digital – percebido ali como demasiadamente focado nas ferramentas de comunicação em si próprias, em contraposição à perspectiva de que o mais importante são as dinâmicas sociais que as tecnologias possibilitam. Em seu lugar, construiu-se uma história baseada em outros adjetivos. O livre, o aberto, o participativo, o colaborativo são centrais para a narrativa coletiva que circunda a MetaReciclagem.

Mas não deixamos de lado a intenção de trabalhar junto a diferentes instituições, tentando influenciar a maneira como elas desenvolvem suas ações. De maneira distribuída e dinâmica, integrantes da rede MetaReciclagem passou a buscar parcerias com o terceiro setor, com instâncias governamentais mais abrangentes - estaduais ou federais -, com organizações culturais. Contextos que oferecem um pouco mais de abertura para uma visão ampla em relação às novas tecnologias de comunicação.

Desde então, pessoas e grupos atuando dentro da rede MetaReciclagem criaram mais de uma dúzia de laboratórios em todas as regiões do país. Alguns desapareceram com o tempo, outros se reinventam até hoje. Se no início nos apresentávamos como um coletivo dedicado ao recondicionamento de computadores usados com a utilização de software livre, o uso social das redes digitais e o impulso à distribuição de cultura copyleft, hoje uma das definições mais comuns da MetaReciclagem é como rede aberta que propõe e articula ações de apropriação crítica de tecnologias para a transformação social. Cada um desses termos é naturalmente debatível, e isso ocupa boa parte do nosso tempo. A rede conta hoje com quase quinhentas pessoas em sua lista de discussão, influenciou um sem-número de projetos de tecnologia orientada para a sociedade, infiltrou-se em diversas discussões que supostamente não lhe diziam respeito, recebeu alguns prêmios e menções honrosas. Mais do que tudo, sabotou a si própria de maneira ativa e consciente - um método para manter sua potência transformadora e a desconfiança do poder institucional.

Também percebemos muito cedo que não nos interessava simplesmente reutilizar a tecnologia em si, mas sim o hábito de apropriação tão presente nas culturas populares do Brasil. Identificamos e buscamos valorizar as práticas da gambiarra, como criatividade cotidiana e vernacular desenvolvendo soluções com quaisquer objetos, conhecimentos ou pessoas disponíveis; e do mutirão, como formação coletiva dinâmica orientada à solução de problemas.

Em sua atuação, a MetaReciclagem situou-se em diferentes contextos institucionais e discursivos. Se o ativismo midiático baseado na ideia de mídia tática foi um dos primeiros fundamentos de agregação da rede, foi o campo da inclusão digital que nos ofereceu a oportunidade de estabelecermos laboratórios e desenvolvermos experimentações - ainda que buscando sempre ir além do mero acesso e propondo a apropriação de tecnologias com base em uma cultura livre. Com o tempo descobrimos que aquilo que fazíamos tinha paralelos com hacklabs, hackerspaces e toda a cena de cultura de faça-você-mesmo. Entendemos que estávamos assumindo uma posição de resistência contra a obsolescência programada, que teríamos um papel importante no debate sobre a questão do lixo eletrônico. Algumas pessoas da rede estabeleceram um diálogo produtivo e continuado com o campo da arte eletrônica.

Essa trajetória está diretamente ligada à prioridade que sempre atribuímos à ideia de abertura, que necessariamente acompanha uma cultura livre. Uma sensibilidade do abrir, aproximando as pessoas da tecnologia para entender como as coisas funcionam, reordenar seus componentes, inventar outros usos, propor outras interpretações. Uma prática da abertura que implica uma estética da abertura (e sua relação com o ruído, a sujeira, a imperfeição, o inesperado). Estética da abertura que necessariamente se relaciona com uma ética da abertura, da participação, do compartilhamento. A compreensão da abertura como princípio político. Um dos resultados desse posicionamento é o fato de a MetaReciclagem ter evitado uma institucionalização centralizada. Em vez de definir uma estrutura hierárquica definida, ela se concretiza de forma fluida e cambiante, sugerindo formas de mobilizar ações que são supostamente mais adequadas a um contexto altamente enredado.

A partir de 2003, o Brasil passaria por grandes transformações. Em especial na política cultural. Na esteira da eleição de Lula como Presidente da República, uma personagem inesperada para o jogo político tradicional se alçaria ao posto de Ministro da Cultura: Gilberto Gil. Músico com reconhecimento internacional e uma das principais vozes do tropicalismo - movimento cultural surgido nos anos sessentas que propunha o diálogo entre manifestações culturais tradicionais, as vanguardas artísticas urbanas e a emergente cultura pop -, Gil sempre demonstrou uma curiosidade a respeito do papel que as tecnologias digitais poderiam exercer na cultura.

O novo dirigente traria uma transformação fundamental para o Ministério: em vez de entender cultura somente sob o prisma da economia do entretenimento e do mercado da arte, propunha um entendimento antropológico da cultura como o conjunto de tudo aquilo que nos faz humanos, vivendo em sociedade. A partir desta perspectiva é que seria criado, sob a coordenação de Celio Turino, o programa Cultura Viva, que propunha um "do-in antropológico". O projeto pretendia identificar e estimular pontos potencialmente transformadores para as culturas brasileiras: os espaços que viriam a ser chamados de Pontos de Cultura.

Logo depois de sua criação, o projeto Cultura Viva decidiu incluir uma vertente digital que incorporava uma profunda reflexão a respeito de autonomia dos saberes, da generosidade implícita nas licenças livres e abertas, da valorização de uma postura hacker (o próprio Ministro posicionou-se como um "ministro hacker"), e da livre circulação de produção cultural. Naquele contexto, o digital não era entendido somente como uma nova linguagem, mas pelo contrário como elemento potencialmente integrador de diferentes linguagens artísticas e formas de expressão cultural.

Para planejar e implementar essa visão, o Ministério convidaria integrantes de diversos grupos, coletivos e redes que se dedicavam a questões de ativismo midiático, cultura livre e tecnologias de comunicação. Isso daria ensejo a uma série de ações em conjunto: encontros, festivais, oficinas, processos de formação e intercâmbio. Centenas de grupos em todas as regiões do Brasil tiveram seu primeiro contato com tecnologias de produção cultural, e já começavam usando softwares livres.

Laboratórios

Nos anos seguintes, uma questão começou a me inquietar em particular: se algumas das pessoas mais capacitadas em relação à fronteira entre tecnologia e cultura estão ocupadas dando oficinas para compartilhar o que já aprenderam, quem é que vai se ocupar de pensar e desenvolver o futuro dessas tecnologias? Criar e ensinar são momentos igualmente necessários, mas em muitos casos exigem disposições mentais distintas. Em determinado momento, parecia que só estávamos criando alternativas de viabilidade para a formação, deixando de lado o aprofundamento, a experimentação formal e o questionamento do imaginário social envolvido em todas essas questões. Além de promover o acesso à cultura digital, como poderíamos apoiar o próprio desenvolvimento da cultura (sem adjetivos) em diálogo com esses novos contextos que têm surgido? Se tínhamos uma visão crítica ao imaginário dos medialabs dos EUA e Europa, o que é que poderíamos propor para sucedê-los?

Pensando nessas questões, criei em 2010 a plataforma Rede//Labs, que naquele ano estabeleceu uma parceria com o Ministério da Cultura para investigar que tipo de arranjo formal e administrativo se fazia necessário para estimular esse tipo de desenvolvimento. Queríamos entender o que deveria ser um laboratório experimental adequado aos dias de hoje. Passamos alguns meses conversando com dezenas de pessoas e grupos atuantes nesse contexto no Brasil e no exterior. Organizamos um blog, promovemos um encontro com pessoas vindas de todo o país e um painel internacional sobre laboratórios de mídia e laboratórios experimentais. Conversamos bastante sobre como sustentar uma cultura de inovação baseada em princípios de liberdade, abertura e compartilhamento, e orientada a demandas da sociedade, não simplesmente ao lucro. Identificamos temas emergentes como a cena maker, a prototipagem digital, as mídias locativas, a realidade expandida, as cartografias colaborativas, o hardware livre, a internet das coisas, os sensores interconectados, entre outros. Entendemos que o laboratório experimental ideal não é (somente) um estúdio, e que também não é (somente) uma escola. Chegamos a esboçar com o Ministério um mecanismode apoio formal à cultura digital experimental, e traçar planos para a implementação de uma rede de laboratórios de arte e tecnologia financiados pelo Ministério da Cultura.

Infelizmente, a passagem de ano para 2011 assistiu a uma mudança brusca no comando no Ministério da Cultura, o que fez com que todas essas ações e planos caíssem no vazio institucional que se seguiu1. A nova prioridade no Ministério era a Secretaria de Economia Criativa. Ainda que mais aberta do que o referencial britânico das indústrias criativas, era nítida a reorientação desde a visão antropológica da cultura em direção a uma visão da cultura como mercado privilegiado.

No fim de 2011, Rede//Labs estabeleceu uma parceria de pesquisa com o Centro de Cultura Espanhola de São Paulo, subordinado à AECID. Nos meses seguintes, redigi uma série de artigos sobre laboratórios experimentais em rede, e articulei a produção de quatro vídeos sobre diferentes organizações e cenários no Brasil que atuam nesse campo. Apesar da boa repercussão da parceria, a crise econômica na Espanha ocasionou o encerramento das atividades do CCE de São Paulo, e no mesmo caminho seguiram as expectativas de dar sequência à pesquisa.

Ao longo desses percursos, acredito que tenhamos aprendido algumas lições. Ou ao menos aprendemos a melhor elaborar algumas questões. Uma delas diz respeito ao aprisionamento ao mercado. Como é que podemos estimular a consolidação de um tipo de reflexão e de prática culturais que estão ligadas à multiplicação dos instrumentos de informação e comunicação, mas como fazemos isso sem cair na armadilha da mensuração econômica segundo a qual tudo que não tem valor comercial não merece investimento? Quais os caminhos para propor colaboração antidisciplinar, que não somente ultrapasse as barreiras entre as disciplinas, mas deixe-as para trás?

Outra questão que tem surgido e inspirado cada vez mais propostas é a integração entre os fluxos das redes digitais e os fluxos das ruas. Em vez de cair naquela visão (que muitos já consideram obsoleta) segundo a qual a internet era a negação da cidade - seu extremo oposto-, um grande número de iniciativas tem buscado justamente relacionar essas duas dimensões diferenciadas de sociabilidade dentro de uma visão integrada. São ações que se desenrolam simultaneamente na internet e nas cidades, que relacionam e retroalimentam o âmbito dos commons digitais juntamente ao âmbito do espaço público urbano. Que trazem a cultura livre para as ruas ao mesmo tempo em que levam a criatividade vernacular e as táticas de apropriação do cotidiano para as redes online. Projetos de mapeamento digital colaborativo, intervenções (e festas) que tomam as ruas. Ações que pensam a própria rua como laboratório, abundante em recursos pouco utilizados e em soluções inovadoras. Que pensam mesmo o laboratório convencional como espaço situado no cenário urbano, potencialmente um espaço de contato que ainda precisamos entender melhor. Que incentivam a ciência cidadã, a criatividade economicamente improdutiva, o hacking de imaginário social. Valores como integração, amizade, afeto, colaboração e tolerância ultrapassando a competição. Porque no fundo o que queremos são futuros mais justos, participativos e inclusivos. E isso não será possível sem desenvolvermos plenamente o potencial das nossas cidades, incorporando os adjetivos que façam sentido durante o caminho mas sem perder de vista o horizonte.

O caminho é longo, mas já estamos em marcha.


1Devo aqui acrescentar que em setembro de 2012 houve nova mudança de Ministra da Cultura no Brasil. Enquanto escrevo este texto escuto boatos de retomada de ações mais experimentais em cultura e tecnologia. Aguardemos.

 

ZASF, Uai Fai na roça. Precisamos de colaboradorxs!

Enviado por efeefe, ter, 09/18/2012 - 13:22

Inscrevi junto com o Vince uma nova versão da ZASF na convocatória do Interactivos?'12 Autonomias: Ciências da Roça na Nuvem. Fico feliz em anunciar que o projeto foi um dos selecionados, em companhia de um monte de outros projetos legais. A ideia é expandir o que fiz até agora com a ZASF: experimentar e documentar o hardware e software, fazer uma curadoria de conteúdo que é disponibilizado nas redes autônomas, trabalhar o objeto físico que cria essas redes (transformá-lo em um totem, em um objeto de culto, ou então em maneiras de ocultá-lo, de garantir sua mesclagem com o ambiente), e pensar em rituais de acesso, rotinas de negociação e quetais.

Vamos precisar de ajuda para fazer tudo isso. Por sorte, o formato do Interactivos? inclui uma convocatória para colaboradorxs: pessoas que dominam um ou outro assunto tratado nos projetos, e que se dispõem a ajudar. A convocatória está disponível lá na página do evento, replico abaixo o texto:

Convocatória para Colaboradores
para Colaboradores
Esta metodologia de desenvolvimento de trabalhos pretende ser uma plataforma de investigação, produção e aprendizagem coletiva que parte do desenvolvimento dos projetos selecionados. As propostas se desenvolvem em grupos multidisciplinares de trabalho compostos pelo autor/autores e pelos colaboradores interessados, com o assessoramento conceitual e técnico de professores e assistentes. O Interactivos?, que existe desde 2006, propõe um modelo interativo de aprendizagem que supera a típica dinâmica hierárquica estabelecida nas figuras do professor e do aluno.

Colaboração
Cada proposta contará com o auxílio de até 3 colaboradores. Xs interessadxs podem escolher com quais projetos desejam participar (dois no máximo). O critério de seleção dos colaboradores será baseado na ordem de inscrição dos mesmos, até preencher as vagas disponíveis.
para Colaboradores
Acesse o resumo dos projetos selecionados e perfil dxs colaboradorxs na nossa wiki clicando aqui
Xs 15 primeiros inscritos serão contactados para colaborar no desenvolvimento dos projetos selecionados ao longo de um período de 16 dias entre os dias 1 e 17 de novembro de 2012, na Nuvem - estação rural de arte e tecnologia.

A Nuvem oferece aos proponentes desta convocatória:
-hospedagem em uma casa em zona rural com conexão à internet, pequeno laboratório e espaços coletivos
-alimentação básica (3 refeições). Alimentos especiais ou extras deverão ser adquiridos pelos proponentes

A despesas de transporte de ida e volta do lugar de origem até a Nuvem serão por conta do proponente.

 

BikeUba

Enviado por efeefe, ter, 09/18/2012 - 10:50

Wille Marcel, que entre outras coisas está envolvido com o projeto Maparec (o mapeamento colaborativo do Recôncavo Baiano), veio de Cachoeira, na Bahia, especialmente para o Encontrão Hipertropical de MetaReciclagem, em maio passado. Durante os dias em Ubatuba, ele ficou com uma boa impressão sobre o uso de bicicletas na cidade, e fez um vídeo sobre o assunto:

Mais informações sobre o vídeo, aqui.

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