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A primeira edição do Ensaio Tropixel começou hoje em Ubatuba. Na verdade, já estávamos trabalhando e preparando algumas coisas ao longo da semana passada. Os Ensaios Tropixel propõem-se a estender e aprofundar questões que surgiram durante a realização do Festival Tropixel, em outubro de 2013, além de começar a preparar o terreno para a próxima edição do Festival, que esperamos organizar no segundo semestre deste ano. Para esta primeira edição, aproximamos dois eixos: mapeamento comunitário e monitoramento ambiental. A ideia é articular o vocabulário das cartografias digitais com as diversas possibilidades que surgem do maior acesso a sensores digitais interconectados.
Quarta-feira, Guima-san chegou de São Paulo para oferecer uma oficina de hardware livre e sensores a alunos do Curso de Informática na Escola Técnica Municipal Tancredo Neves. O tempo foi curto, mas deu para ter alguma ideia das possibilidades. No dia seguinte, reunimos algumas pessoas de Ubatuba que trabalham com tecnologia e educação na Biblioteca Municipal, onde fica o antigo telecentro GESAC - e que se tudo der certo vai transformar-se no Espaço TEC de Ubatuba - para começar a testar um sensor de Oxigênio Dissolvido e fazer as primeiras experiências no sentido de construir sensores de qualidade de água para os rios de Ubatuba. Guima dedicou algum tempo a ajustar o sistema e encontrar maneiras de registrar os dados gerados. É necessário acrescentar que temos consciência de que o Oxigênio Dissolvido é somente uma entre diversas mensurações possíveis para verificar a qualidade de água. É um dado que varia a partir de diversas condições, e portanto não é uma medida definitiva. Mas na proposta de primeiro passo em um laboratório que dedique tempo, recursos e talento a esse tipo de desenvolvimento, parece-nos um começo apropriado. No momento, não estamos buscando um índice objetivo, e sim a possibilidade de comparar diferentes pontos do rio e/ou diferentes momentos da água que corre por ele.
Hoje à tarde, como dizia, começamos com a programação mais intensiva. Esta edição do Ensaio Tropixel é uma parceria com o Labmovel, coordenado por Lucas Bambozzi e Gisela Domschke. A convite do Labmovel, o artista Fernando Velázquez veio a Ubatuba trazendo um drone Phantom 2. A partir de conversas que aconteceram durante o Festival Tropixel, voltamos a atenção da oficina ao Rio Acaraú, que vem desde o pé da serra, Sesmaria e Estufa II, depois atravessa a Rio-Santos e corta o Itaguá até chegar ao mar. A ideia hoje era juntarmos uma reflexão com referência na cartografia - voltar os olhos para o chão, as curvas do rio e as maneiras de chegar até ele - com a possibilidade de gerar dados a partir de um protótipo de sensor.
Reunimos os participantes no Tancredo para uma primeira conversa, e depois fomos em busca do rio. Alguns participantes carregavam smartphones com aplicativos de rastreamento via GPS, com a missão de registrar os trajetos com imagens e anotações. Paramos primeiramente no ponto onde o rio passa por debaixo da Rio-Santos, perto do trevo da Praia Grande. Fizemos ali algumas medições com o sensor e imagens aéreas com o drone. Em seguida, paramos em um ponto entre Itaguá e Tenório que tem outro acesso ao rio. Por fim, paramos na foz do Acaraú no canto direito do Itaguá, ao lado do morro.
Encerramos o dia com trilhas de GPS, dados de testes de oxigênio dissolvido na água e imagens aéreas. Amanhã, domingo, das 10h às 13h, vamos novamente nos reunir para agregar estes dados e pensar em como dar sentido a eles. O encontro está marcado para o Terminal Marítimo Comodoro Magalhães, no canto direito do Itaguá (pouco depois da Capitão Felipe). A programação é aberta a todos os interessados.
Acompanhe também:
Marcelo Estraviz, aliado que estava por perto quando surgiram as primeiras conversas que inspiraram a MetaReciclagem, mais de dez anos atrás, está vindo para Ubatuba na próxima semana a convite da Escola Jardim Primavera Iniciativa Waldorf. Na noite da sexta-feira, Estraviz vai dar uma palestra sobre "Captação e Mobilização de Recursos" no Sobradão do Porto. Recomendo a todo mundo em Ubatuba e região que se dedica a fazer projetos e ideias acontecerem. Abaixo o serviço completo.
A ESCOLA JARDIM PRIMAVERA PROMOVE A PALESTRA
CAPTAÇÃO E MOBILIZAÇÃO DE RECURSOS
com Marcelo Estraviz
Dia 27 de setembro, sexta-feira, às 19h
Sobradão do Porto (Fundart)
Praça Anchieta, nº 38, Centro, Ubatuba/SP.
A Escola Jardim Primavera Iniciativa Waldorf convida todos os interessados a assistir à palestra de Marcelo Estraviz sobre captação e mobilização de recursos para projetos sociais e culturais.
Marcelo Estraviz apresenta elementos e iniciativas que contribuem para a criação e o aperfeiçoamento de um departamento de captação de recursos, fazendo com que a área possa se estabelecer, profissionalizar e manter-se ativa e eficaz dentro de organizações sem fins lucrativos e projetos culturais. Apresenta também aos participantes as principais atividades e técnicas para que uma organização inicie um planejamento estruturado na mobilização de recursos, por meio de seus aliados e futuros parceiros.
Custo: Gratuito.
Sobre Marcelo Estraviz: Empreendedor social, palestrante e escritor. Ex-presidente da ABCR - Associação Brasileira de Captadores de Recursos, Conselheiro do Greenpeace e embaixador da iniciativa The Hub. Professor do MBA de Gestão e Empreendedorismo Social da FIA/USP-Gife. Co-autor do livro "Captação de diferentes recursos para organizações da sociedade civil" e autor de "Um dia de captador". É também Presidente da Associação de ex-alunos do Colégio Miguel de Cervantes.
http://about.me/marcelo.estraviz
Sobre o Jardim Primavera: Escola localizada no Centro de Ubatuba que tem como princípio a Pedagogia Waldorf, baseada na Antroposofia. A Associação Jardim Primavera, mantenedora da Escola, dá especial importância à economia associativa, à colaboração e à sustentabilidade de projetos socioculturais.
http://jardimprimavera.com.br
Apoio: Pousada Albatroz, Pizzaria Orégano, Padaria Integrale e Ubalab.
Os últimos meses não deixaram muita folga para relatar da maneira habitual os eventos pelos quais passei. A própria quantidade de eventos e projetos, minhas aventuras acadêmicas, a mudança de volta para Ubatuba e uma viagem de dois meses (com mais eventos e projetos) atrasaram ainda mais meu ritmo de documentação. Cheguei em casa semana passada doido para contar sobre as últimas andanças, mas a lista de coisas a documentar acabou me bloqueando.
Vou então, como comentei em outro post, deixar de lado o capricho virginiano e contar por cima alguns episódios. Começo com o fim do relato sobre as Jornadas Ciudades Creativas, organizadas pela Fundação Kreanta em Medellín (Colômbia) em outubro do ano passado. Eu já publiquei a primeira parte do relato sobre minha participação. Este não chega a ser um post curto, mas normalmente eu faria mais dois ou três.
Na manhã do primeiro dia, Alex (Platohedro) me ofereceu uma carona até o MAMM, Museu de Arte Moderna de MDE. Nos acompanhava Jorge Bejarano, diretor do departamento de educação e cultura do MAMM e responsável pelo meu convite para as jornadas. Estávamos ali para uma conversa entre pessoas de diferentes projetos da cidade comigo e com José Ramon Insa Alba (que parece um irmão do hdhd), inserida no projeto co:operaciones e versando sobre tecnologia, liberdade, apropriação, poder, corporações e alternativas. Bastante gente na mesa, conversa fluida e aberta. Camilo Cantor publicou o áudio aqui, e surgiram anotações para um texto coletivo. Adorei o clima no MAMM, que (apesar do nome) é bem arejado e repleto de gente interessante e interessada.
Saímos de lá para o almoço inaugural das jornadas e uma primeira apresentação dos participantes. Devia haver umas trinta pessoas. Era em um espaço ajardinado, ao ar livre. Algo paradoxal: lugar bonito, com um almoço servido por garçons, mas a comida era fraca e bebida somente refrigerante de cola ou água. Não havia banheiros, nem para lavar as mãos. E senti imensa falta de um café depois do almoço.
Na sequência, Alex me conheceu para conhecer o espaço do Platohedro. Nos arredores a cidade já parecia mais orgânica, menos ensaiada. O espaço é fantástico, um sobrado grafitado e cheio de gente. Me senti em casa. Trabalhei um pouco, conversei bastante com o Capo sobre servidores, redes e o N-1.
À noite, de volta ao MAMM, rolou a abertura oficial das Jornadas. Começou com uma apresentação de um grupo de Hip Hop, depois falas de autoridades e algumas palestras.
O segundo dia foi no Centro de Desenvolvimento Cultural de Moravia - um espaço que lembra tantos centros comunitários, CEUS e afins no Brasil exceto por um aspecto: um cuidado especial com a arquitetura. O lugar é muito bonito, e isso já muda totalmente as expectativas. O auditório é de primeira, também bonito e bem cuidado. Jorge Melguizo, ex-secretário de cultura da cidade, mostrava com orgulho os detalhes do centro localizado naquele que era um dos bairros mais violentos da cidade. O dia foi recheado de debates e apresentações tratando de diversos temas: planejamento urbano, espaço público, cicloativismo, intervenção urbana, mídia alternativa, museus. Muita coisa interessante, bastante diversidade e enraizamento. Havia também um ou outro europeus perdidos ali em uma visão instrumental e rasa de cultura, mas ninguém deu muita bola.
O almoço foi em um museu, algumas quadras morro acima em uma rua decorada por intervenções e arte de rua. Lugar fantástico, mas sem estrutura para atender a tanta gente. Pedi uma opção que no fim das contas não existia, tiraram meu prato antes que terminasse e encerrei com um cafezinho aguado. Voltamos para o Centro Cultural para mais uma tarde de debates interessantes. O dia se encerrou com a entrega do prêmio Espaço Público da Europa e com uma apresentação de dança de rua, capoeira, hip hop, dança afro e batucada.
O terceiro dia foi em um espaço chamado Ruta-N, um elefante hi-tech que segundo contam ninguém ainda encontrou função. Assisti pelo stream a primeira palestra, de Saskia Sassen. Falou sobre o discurso da cidade e usou uma interpretação curiosa de "hacker" para sugerir que a cidade interferia com as tecnologias (não pude concordar com essa leitura, mas ainda assim acho interessante). Explorou também a explosão de adjetivos correntemente associados às cidades: cidade criativa, esperta, conectada, inteligente. Disse que não usa mais adjetivos, porque eles são rapidamente assimilados por consultorias cujo único objetivo é o dinheiro. Falou que tem usado o termo "global street" (rua global) para escapar.
Na sequência, mais apresentações e palestras. Felipe Leal, secretário de desenvolvimento urbano e habitação da cidade do México, foi um dos mais interessantes (embora eu tenha dúvidas sobre quanto de sua apresentação era ficção). Almoçamos no Museo de Antioquia, na praça decorada com diversas esculturas de Botero. Almoço decente, e finalmente com um café à altura.
Voltamos ao Ruta-N em um daqueles ônibus coloridos de MDE. Germán Rey falou sobre o Centro Ático, laboratório colombiano bem baseado no modelo do MIT Media Lab, só que colonizado. Tudo com papeis definidos: disciplinas bem recortadas, estudantes, "impacto" na "cultura", etc. Disse que "chamaram os melhores professores" para trabalhar em um projeto com índios (depois de ter dito que queriam aprender com eles). Falou ainda que "não é possível levar o laboratório de um lugar a outro". Depois foi a vez de José Ramon, com uma visão delicada e didática sobre cultura digital e os conflitos que ela inspira com poderes tradicionais. Sugeriu que devemos nos libertar da tirania da excelência, dissolvendo hierarquias. É mesmo parente do Hernani.
Eu participei da mesa seguinte, sobre "apropriação de tecnologias para sociedades inteligentes". Comigo estavam Felipe Londoño, contando sobre seus projetos em Manizales e Julian Giraldo contando sobre o un/loquer. Fiz minha fala em um castelhano enrolado. Os brasileiros que acompanharam o stream elogiaram meu domínio do idioma. Não me lembro de ouvir o mesmo elogio de nenhum colombiano, mas acho que me entenderam mesmo assim ;) Ao fim do debate, me ofereceram uma nuvem de tags da minha fala, achei interessante:
Naquela noite estava planejada uma bicicletada com todos os participantes do evento. A garoa na saída do Ruta-N sugeria que esperássemos antes de ir até o ponto de encontro. Acompanhei os aliados colombianos até uma rua do outro lado da avenida que concentrava um monte de botecos. Ficamos por ali bebendo algumas e acabamos perdendo a hora. Tomamos um taxi até uma praça perto do hotel, comemos alguma coisa e nos despedimos.
Na manhã de sábado saí do hotel carregando minha bagagem - começaria meu retorno ao Brasil no início da tarde, antes mesmo de acabar o evento, para chegar ao São Paulo por volta da meia-noite e ter tempo de dirigir até Ubatuba no domingo para votar. Esse era o plano, pelo menos.
Encontrei o pessoal em um dos prédios anexos do Museu de Antioquia. Participei de um debate mais aberto e informal (mais o meu estilo, definitivamente) com o tema "do cibermundo ao bairro". Ali a conversa fluiu muito bem. Saí antes que acabasse para tomar o transporte até o aeroporto. E começou minha novela.
Eu tomaria um voo até Bogotá, e de lá rumaria até Guarulhos. Mas o primeiro voo foi cancelado, e nenhum funcionário conseguiu realocar os passageiros a tempo. Fiquei algumas horas no aeroporto de Medellín comendo os amendoins da sala VIP, e cheguei a Bogotá meia hora depois da conexão que deveria tomar. Teria que esperar cinco horas e meia no aeroporto. Aproveitei para fazer a barba, comi alguma coisa, bebi uma cerveja. Uma hora antes do voo, o aviso: o avião não poderia partir, precisaríamos esperar outro. E lá se foram mais duas horas e meia de atraso.
Acabei chegando em casa em São Paulo às oito e pouco da manhã de domingo. Mas... não encontrava a chave do carro, por mais que procurasse. Depois de algum tempo, chamei o seguro para ver se conseguiam abrir o porta-malas, onde acabei pensando que poderia tê-la esquecido. Precisaram de dois carros e um monte de equipamentos para conseguir abrir (o que não deixa de ser um bom atestado da segurança do carro). Destravaram a porta, desativaram o alarme, usaram a chave-mestra... e nada da chave. Chamaram outro carro, um guincho, que me levou até Campinas para buscar a chave reserva. Até voltar para São Paulo, já havia perdido o horário possível para votar em Ubatuba. Só cheguei à noite, infelizmente.
De todo modo, as Jornadas Ciudades Creativas ajudaram a dissolver minha desconfiança total com eventos que se situam nesse diálogo entre cidade, criatividade e economia. A diversidade de atores e projetos representados lá, e a própria direção das conversas que eu mesmo tive com tanta gente, me fizeram acreditar que é possível explorar esses temas de maneira bem menos superficial do que geralmente se vê por aí. Estou curioso sobre a próxima edição (em Buenos Aires, próximo agosto) e sobre possibilidades de articular eventos associados às Jornadas em São Paulo (e Ubatuba, por que não?).
P.S.: Mais fotos aqui.
Saí há pouco da Câmara Municipal de Ubatuba, cuja ordem do dia incluía o projeto de lei do Sistema Municipal de Cultura da cidade. A partir do fantástico esforço da comissão de cultura, enfrentando inclusive o projeto incorporou os diversos mecanismos democratizantes previstos na constituição: conselho, plano, conferência, etc. Nossa amiga Milena Franceschinelli inscreveu-se para falar sobre o projeto à mesa. O projeto foi aprovado em votação unânime na Câmara. Houve apenas pequenas correções de grafia e uma emenda para explicitar a prioridade às populações indígenas, cultura caiçara e grupos afrodescendentes ligados a quilombos. Diversos vereadores aproveitaram a discussão para elogiar Isabela Vassão, diretora da Fundart, e a comissão que trabalhou pela elaboração e apresentação do SMC.
Deixo aqui os parabéns para todo mundo envolvido: a comissão, a Fundart, Isabela e Milena. E que se preparem porque isso é só o começo, vem muito trabalho pela frente!
PS.: mais informações aqui na página do PT de Ubatuba.
Em visita ao Brasil por motivos pessoais, o finlandês Tapio Mäkelä passar uns dias em Ubatuba. Estamos conversando sobre possibilidades para o futuro, desde a programação bricolabs que estou agitando durante o festival Pixelache em Helsinki, neste próximo mês de maio, até os planos futuros de realizar um evento científico-artístico em Ubatuba no segundo semestre (nos moldes da Cigac-Semiárido que fizemos ano passado na Paraíba). Fomos à sede do projeto Tamar para entender melhor quais são as questões que eles enfrentam por aqui. Estamos também em conversas sobre parcerias possíveis para fazer coisas continuadas aqui em Ubatuba.
(e o gringo deu sorte: manhãs ensolaradas e tardes chuvosas)
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