A tarde do dia 23/10 foi dedicada a explorar o tema principal do festival Tropixel Labs: existiriam alternativas aos horizontes usualmente expressos no discurso do desenvolvimento? No que consistiriam estas alternativas? De que maneira podem ser articuladas para oferecer futuros mais inclusivos, humanos e sustentáveis? Ao longo da tarde daquela sexta-feira, o festival reuniu nomes importantes para debater estes temas na Etec - Centro Paula Souza de Ubatuba.
Ubatuba é um cenário significativo para este tipo de debate, que naturalmente também repercute em outras localidades. A presença de extensas unidades de conservação ambiental na cidade faz com que ela mantenha uma alta proporção - mais de 80% do território - de áreas preservadas de mata atlântica. As bordas das unidades de conservação ainda contam com populações tradicionais - indígenas, quilombolas e caiçaras - que se esforçam para viver da terra, da pesca e mantendo vivas suas tradições, sem no entanto perder o contato com a contemporaneidade. Além disso, a cidade tem atraído uma quantidade cada vez maior de pessoas em busca de qualidade de vida que trabalham em áreas ligadas ao conhecimento, remotamente ou com horários flexíveis. Por outro lado, a ausência de instituições de educação superior ocasiona uma intensa e contínua evasão de talentos: grande parte dos jovens mais criativos e habilidosos abandonam a cidade ao terminar o ensino médio, em busca de locais com mais oportunidades. E raramente retornam a Ubatuba. Também pela ausência de universidades, grande parte do conhecimento gerado ou registrado na cidade - científico, ambiental, cultural, social - escorre diretamente para os grandes centros, muitas vezes sem que a sociedade local sequer trave contato com ele.
Com o objetivo de contribuir com a reflexão sobre os possíveis caminhos alternativos para desenvolvimento em Ubatuba, o festival Tropixel elencou três áreas: cultura e cidade; educação aberta; e ainda ciência, tecnologia e inovação. Durante a Jornada Outros Desenvolvimentos, o debate se iniciava com um ou dois convidados de fora falando sobre cada um destes temas. Em seguida, atores de Ubatuba envolvidos com assuntos correlatos faziam comentários, tecendo conexões entre as intervenções dos convidados e o contexto, iniciativas ou possibilidades da/na cidade. Por fim, o público poderia manifestar-se livremente a respeito das apresentações e comentários. Felipe Fonseca conduziu as atividades ao longo do dia.
O programa da Jornada Outros Desenvolvimentos foi o seguinte:
- Cultura e Cidade: Adriano Belisário e Mari Piazzolla, comentados por Juan Blanco Prada e Gisella Hiche e seguidos de debate aberto;
- Educação Aberta: Laia Barres e Nelson Pretto, comentados por Emerson Mendonça e Line Mayer e seguidos de debate aberto;
- Ciência, Tecnologia e Inovação: Sarita Albagli e Juan Blanco Prada, seguidos de debate e anúncios sobre intenção de instituir o sistema municipal de ciência, tecnologia e inovação em Ubatuba
A Jornada Outros Desenvolvimentos foi concebida com a intenção de atrair pessoas da cidade potencialmente interessadas no debate e em contribuir com a reflexão sobre alternativas viáveis. Entretanto, o público no dia foi reduzido. Cortes e atrasos no financiamento do festival impediram um maior esforço de divulgação da Jornada. E é possível que a complexidade e especificidade de temas tratados também tenha contribuído para a baixa adesão. Ainda assim, os debates foram excelentes e trouxeram elementos que podem contribuir para a construção de alternativas viáveis ao desenvolvimento na cidade.
A jornada foi transmitida ao vivo pela internet. A íntegra da transmissão está disponível na internet. Entretanto, a qualidade tanto do áudio direto quanto do vídeo transmitido pela internet instável que existe em Ubatuba está muito baixa. Por este motivo, decidimos publicar abaixo o áudio gravado direto da mesa, separado por cada momento da Jornada.
Veja também:
1. Cultura e cidade
A primeira mesa da Jornada Outros Desenvolvimentos tinha por objetivo estabelecer o diálogo entre os diversos campos ligados à cultura e possibilidades de reposicionar as conversas até mesmo sobre o que significa desenvolvimento. Espaços de criação e articulação, eventos dedicados à inovação urbana, articulação entre saberes tradicionais, espaço público e possibilidades advindas de ambientes digitais de produção colaborativa e circulação de informação estavam dentro do universo do debate.
1.1. Adriano Belisário
Adriano contou sobre projetos desenvolvidos pelo INCITI/UFPE, como os editais de ocupação dos LabCEUs e o Urban Thinkers Campus.
Escute a gravação em áudio da apresentação, na íntegra.
Assista também ao vídeo sobre os LabCEUs exibido por Adriano durante sua apresentação:
1.2. Mari Piazzolla
Mari Piazzolla compartilhou sua experiência com a implementação do Edital Redes e Ruas, uma parceria entre as Secretarias Municipais de Cultura, Serviços e Direitos Humanos da cidade de São Paulo que apoia dezenas de projetos de cultura que dialogam com o espaço público.
Escute a gravação em áudio da apresentação, na íntegra.
1.3. Comentários
Gisella Hiche (participante do coletivo EIA) e Juan Prada (diretor-presidente da Fundart) teceram comentários sobre as falas de Adriano e Mari. Acesse abaixo a gravação em áudio dos comentários:
1.4. Debate - Cultura e Cidade
Participaram do debate aberto:
- Mari Piazzolla
- Adriano Belisário
- Henrique Parra, professor na UNIFESP e pesquisador no Ciência Aberta Ubatuba
- Felipe Fonseca, coordenador do Ubalab e pesquisador no Ciência Aberta Ubatuba
A gravação em áudio do debate aberto que se seguiu também está disponível para acesso e download.
2. Educação Aberta
2.1. Laia Barres
2.1. Laia Barres
A pesquisadora catalã Laia Barres (UFBA) contou sobre as atividades educativas do Museu de Ciências Naturais de Barcelona, que aproximam arte e ciência.
O áudio da apresentação também está disponível para acesso e download:
2.2. Nelson Pretto
Nelson Pretto, professor na Faculdade de Educação da UFBA e conselheiro da SBPC, falou sobre outras educações, o papel da escola e o professor hacker.
Áudio da apresentação de Nelson Pretto:
2.3. Comentários
Os comentários locais sobre a mesa Educação Aberta ficaram a cargo de Emerson Mendonça, da Escola Técnica Municipal Tancredo Neves, e de Line Mayer, da Secretaria Municipal de Educação.
2.4. Debate - Educação Aberta
Participaram do debate sobre educação aberta:
- João, professor de física em uma escola estadual na Marafunda
- Milena Franceschinelli, articuladora do Ocupe os Conselhos
- Line Mayer
- Emerson Mendonça
- Álvaro Gonçalves, coordenador do curso de informática da Etec - Centro Paula Souza de Ubatuba
3. Ciência, Tecnologia e Inovação
Nos planos originais do Tropixel, a última mesa do dia contaria inicialmente com uma fala da professora Sarita Albagli para situar a dimensão política das estruturas de ciência e tecnologia e sua relação com desenvolvimento. Em seguida, Pedro Seno (Secretário Municipal de Tecnologia da Informação) anunciaria a construção de políticas municipais para estimular o desenvolvimento de ciência, tecnologia e inovação de acordo com as aspirações da cidade de Ubatuba. Entretanto, o Secretário estava em São Paulo e não conseguiu retornar a Ubatuba a tempo, e acabou sendo substituído por Juan Prada.
3.1. Sarita Albagli
Sarita Albagli é professora na pós-graduação em ciência da informação no IBICT e coordenadora do projeto Ciência Aberta Ubatuba. Ela debateu a relação entre ciência, tecnologia e inovação, capitalismo, sociedade, território, redes, apropriação e desenvolvimento.
3.2. Juan Prada
Além de diretor-presidente da Fundart, Juan Prada também é Secretário Municipal de Meio Ambiente em Ubatuba. Ele falou sobre as tensões entre conhecimentos das populações, a ciência acadêmica estabelecida e inovações estimuladas pela indústria, sugerindo a necessidade de desaprender meio século de "inovações" para revalidar alternativas sustentáveis.
3.3. Debate - Ciência, Tecnologia e Inovação
Durante o debate final da Jornada Outros Desenvolvimentos, Paulo Lara trouxe a dimensão do ativismo midiático, do espectro livre e temas correlatos para a discussão sobre tecnologias e desenvolvimento. Integrantes do comitê que vem trabalhando a construção da política municipal de ciência, tecnologia e inovação também falaram brevemente sobre os planos de constituir instâncias institucionais que sediem de forma permanente a discussão a respeito de ciência, tecnologia, inovação e desenvolvimento.